sexta-feira, 6 de março de 2009

Sobre domésticas e carentes de plantão


Era uma quarta-feira ensolarada e quente quando três desocupados resolveram, depois de resolver 4 testes, pegar um atalho contrário ao caminho de casa e, cansados e torrando, pararam na frente de um manicômio embaixo de uma árvore. Havia folhas secas caídas no chão de brita e edifícios que lembravam a aristocracia alagoana. Os três desocupados resolveram que o melhor a ser feito seria ficar debaixo da árvore conversando água (expressão genuinamente arapiraquense que, quando traduzida para o português, significa 'conversar sobre coisas inúteis'). Foi com grande espanto que avistaram da varanda de um dos prédios uma empregada doméstica limpando um vidro com seu corpo quase todo fora da janela e que, provavelmente, acreditava na existência do homem aranha e que ele largaria a sua Méri Djêni para salvá-la em meio ao calor de 40 graus (na sombra) que assolava a capital alagoana (Maceió, para quem não sabe) ou ainda que o parapeito da janela a salvaria de uma possível queda. Parênteses: Querida doméstica, não se fazem mais parapeitos como antigamente. Se os antigos não eram lá isso tudo, imagine os atuais, entenda que a sociedade não anda pra frente, como parece, ela anda pra trás e nós vamos acabar numa grande explosão, mais conhecida como big ben. Fecha parênteses. Os três desocupados ficaram a imaginar como seria a queda de tal ícone da classe trabalhadora daquela janela, um deles chegou a sugerir a filmagem de tal acontecimento histórico para depois enviá-lo para algum blog infame (tipo este aqui) e ganhar 'uma graninha' às custas da queda da pobre mulher. Mas, além de desocupados, eles são desprevinidos, o que mostra que não será apenas o que optará por jornalismo que morrerá por inanição. Felizmente, a nossa querida empregada doméstica não sofreu nenhum arranhão, mas também não deu o número de seu telefone celular tecnologia TDMA ao desocupado número um, que parecia disposto a tudo para consegui-lo. Ainda estava quente e o desocupado número um falava sobre os seus planos futuros, que vão ficar implícitos porque este é um blog decente, quando uma coisa nada decente foi avistada na janela do prédio vizinho (não é à toa que os prédios se situam em frente a um manicômio). Um homem de aproximadamente 25 anos, descamisado tentou seduir os pobres desocupados que só queriam protelar numa manhã calorosa (pra caralho) acenando para eles e fazendo gestos um tanto (isso é eufemismo, eufemismo é suavização - Isso aqui também é cultura) obcenos com a sua pobre parede, que não deve ter feito nada de tão mal para ele para estar sendo abusada (outro eufemismo, vide parênteses anterior para saber o que pretende ser um eufemismo) de tal maneira (um dos desocupados formulou uma tese sobre a existência de um possível buraco na pobre parede). O desocupado número um (perceba que ele é o mais infame) até respondeu ao seu chamado acenando algo como um "hang lose" (ou loose, não entendo dessas expressões) e sugeriu uma ida até o apartamento do carente de plantão, mas a maioria votou pelo não, grazadeus. O nosso nem-tão-querido carente de plantão desistiu de investir neles e ligou sua televisão no discovery kids. E, para finalizar com chave de ouro, o não menos importante gay-serviçal, do mesmo apartamento da doméstica aparentemente suicida, que estava disposto a dar o número de seu telefone (também de tecnologia TDMA) e outras coisas mais para dois dos desocupados (o terceiro deles era uma garota decente e ela foi vítima do ócio do desocupado número um, que, como foi dito, é o mais infame).

Moral da história: Nunca pare em frente a manicômios, ainda que você venha a descobrir ao sair que você não estava em frente a um (é, não era um manicômio, foi tudo mentira do número um, claro).

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